quarta-feira, 31 de março de 2010

QUINTA-FEIRA SANTA: MISSA DA CEIA DO SENHOR

“Todas as vezes que comerdes deste pão e beberdes deste cálice, estareis proclamando a morte do Senhor, até que Ele venha.”
(I Cor 11,26)

INTRODUÇÃO

No entardecer da Quinta-Feira Santa, incia-se o Tríduo Pascal, onde a Igreja revive os momentos derradeiros da vida de Nosso Senhor. Neste dia, celebra-se a Sagrada Ceia pela qual Cristo institui o Sacramento da Eucaristia. Amando os seus até o fim, Jesus antecipa sua entrega a favor da humanidade, pelo seu santíssimo Corpo e preciosíssimo Sangue nas espécies do pão e do vinho. Era uma ceia judaica e se aproximava a festa da Páscoa dos judeus.

A atitude de Nosso Senhor nos revela um Deus amoroso e sempre presente na vida e na história de seu povo. Ele perpetua sua presença entre nós, pela Eucaristia, instituindo também o sacerdócio ministerial ao ordenar que se celebre sempre aquela ceia em sua memória (cf. I Cor 11,24-25). Através dos sinais sacramentais perpetuados em nosso meio, portanto, celebramos também o seu Mistério Pascal.

Também conhecida como Missa do Lava-Pés, apesar de não ser o foco (este rito até pode ser omitido), esta celebração traz a dinâmica da humildade, que era o que aquele gesto indicava à época. Com isso, Jesus nos dá o novo mandamento do amor, que iguala escravos e livres, que devem servir o próximo indistintamente. O gesto do lava-pés traduz de maneira perfeita esse novo mandamento.


1 ASPECTOS CELEBRATIVOS

A celebração da Ceia do Senhor, assim como as demais celebrações do Tríduo Pascal é marcada pela ocorrência de elementos atípicos. Onde for recomendação, neste dia, doze pessoas terão seus pés lavados, repetindo o gesto de Cristo. Após a comunhão eucarística, ocorre o translado do Santíssimo Sacramento e o altar “perde” função a partir de então, até a Vigília Pascal, ficando desnudado, assim como seu entorno. Além disso, um clima de absoluto silêncio deve ser observado quando da dispersão da assembleia.


1.1 O QUE PROVIDENCIAR

De complexidade considerável, esta celebração requer cuidados extras em relação a uma Missa estacional (dominical cotidiana): a preocupação em se consagrar partículas em quantidade suficiente para a Liturgia da Paixão do Senhor, na Sexta-feira Santa é um importante exemplo.

Além disso, necessário se faz separar o véu umeral para o momento do translado, turíbulo e naveta para a celebração (o Cerimonial dos Bispos indica um segundo turíbulo), tochas e velas.

No que diz respeito ao ritual do lava-pés, fundamental preparar os assentos para os designados, bem como preparar gremial (avental (se houver)) jarro e bacia com água, toalha para enxugar os pés e outra para que o presidente lave as mãos, incluindo sabonete e lavabo.

Para o translado do Santíssimo Sacramento, necessário preparar uma capela lateral, contendo um outro sacrário para reposição, bem como flores, velas e outros ornamentos adequados.


2 QUESTÕES PRÁTICAS

Dada a magnitude da celebração, convém que os leitores sejam orientados a ensaiarem bem os seus textos, de modo a evitar falhas durante as leituras. Da mesma forma, os designados para desnudar o altar podem simular o momento, priorizando o silêncio e a discrição.

Os “discípulos” devem ser orientados quanto aos procedimentos que ocorrerão durante a celebração. Para isso, uma reunião prévia deve ser realizada, na qual se priorizará o que segue:

- roupas: se não houver um traje padrão, oriente-se para que os participantes estejam adequadamente trajados: calça e camisa para os homens, o mesmo para as mulheres, permitindo-se o uso de vestidos ou saias abaixo do joelho;
- calçados: sandálias ou chinelos, evitando-se calçados fechados para facilitar o momento do “lava-pés”.
- postura: convém destacar a importância da postura, ainda mais por se tratar de pessoas que estarão em evidência.


2.1 O LAVA-PÉS

O rito do lava-pés, apesar de bastante significativo e dentro da dinâmica da celebração, não é obrigatório, razão pela qual pode ser realizado onde for costume ou aconselhado (cf. CB 301). Para a sua realização, após a homilia, os escolhidos são conduzidos até o lugar onde os assentos foram preparados. O presidente da celebração depõe a casula, podendo cingir-se com um gremial de linho adequado (o CB aponta esta possibilidade ao bispo, que eventualmente utilizando a dalmática, não poderá depô-la). Gremial é uma espécie de avental. Aproximando-se dos doze escolhidos, deita água no pé direito, enxugando-o em seguida. O rito não prevê o gesto do beijo, comumente disseminado pelas comunidades, mas também não o impede, indo do costume do local. Ainda que muitas comunidades escolham mulheres para a ocasião, o Cerimonial dos Bispos indica somente homens (idem).

Durante a realização do lava-pés, a equipe de canto entoa antífonas ou cantos adequados. Terminado o rito, o presidente lava as mãos, retoma a casula, e se dirige à cadeira presidencial (sédia), de onde prosseguirá a celebração, omitindo-se o Símbolo (Profissão de Fé), finalizando a Liturgia da Palavra com a oração dos fiéis. Não existe recomendação para que os doze permaneçam no mesmo local, sendo mais indicado que todos retornem aos seus lugares de origem, sobretudo se estiverem no presbitério.


2.2 SAUDAÇÃO DA PAZ: UMA CURIOSIDADE

Nas novas disposições trazidas pelo Concílio Vaticano II, que promoveu grandes reformas na Sagrada Liturgia, nada se observa quanto à saudação da Paz de Cristo. Contudo, na tradição pré-conciliar, o “ósculo da Paz” era omitido neste dia, consequência de um antiquíssimo uso da Igreja de não se dar a Paz na Sexta-feira Santa. Omitia-se, também, como sinal de horror pelo “beijo traidor” de Judas Iscariotes.


2.3 TRANSLADO

Para o momento do translado do Santíssimo Sacramento para o Altar da Reposição, após a oração depois da comunhão organiza-se uma procissão, com a seguinte ordem de integrantes: acólito com a cruz, acompanhado de acólitos que levam os castiçais com as velas acesas; a seguir o diácono e dois turiferários com os turíbulos fumegando, o presidente da celebração e ministros com o Santíssimo Sacramento. Todos levam velas e, junto do Santíssimo Sacramento levam-se tochas (cf. CB 307). Enquanto isso, canta-se um canto eucarístico apropriado, sendo mais indicado o “Canta Igreja”, exceto as duas últimas estrofes. Em relação à citação de referência, ocorre algumas variações em relação ao texto original, adaptados à realidade das comunidades, onde o presidente da celebração é o sacerdote.

Chegando-se ao local da reposição, o diácono ou, na falta dele, o presidente da celebração coloca as âmbulas sobre o altar ou no sacrário, mantendo-o com a porta aberta. De joelhos, o presidente incensa o Santíssimo Sacramento, enquanto se canta “Tão sublime”. Após a incensação, as âmbulas são recolhidas para o sacrário e a porta é fechada.

Observado um breve instante de adoração, todos se levantam, genufletem e deixam, em silêncio, o recinto, rumo à sacristia. Não há benção de envio (final). Após esse momento, é indispensável a observação do mais absoluto silêncio.

Dentro das condições de cada comunidade, é recomendado aos fiéis que durante a noite permaneçam em adoração. A partir da meia noite, porém, não deve haver nenhuma solenidade.


2.4 DESNUDAÇÃO DO ALTAR

Após o “término” da celebração, o altar é desnudado. Dele retira-se castiçais, cruz do altar, toalha e outros objetos. É comum ainda, embora não prevista, a retirada de outros objetos móveis localizados no presbitério, como cadeiras e imagens pequenas. Quanto às cruzes eventualmente existentes, se não removidas, que sejam cobertas. Imagens também costumam ficar ocultas.


3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

É visível que a celebração envolve momentos de complexidade relevante, necessitando de cuidados especiais. Geralmente, as comunidades ficam repletas de fiéis; desta forma, haja o devido cuidado na escolha de leitores, para que as leituras sejam devidamente proclamadas. À frente, no espaço do presbitério, poderá haver uma mesa de estatura baixa e característica rude, onde estarão alguns pães (como sírios), um maço de trigo, um jarro com vinho e uvas (rosadas). Se oportuno, uma estola também ficaria junto aos outros símbolos, remetendo à ideia da instituição do sacerdócio ministerial, por meio do qual nos vem Cristo Eucarístico, nos dons do pão e do vinho.

A necessidade de prestar assistência ao presidente da celebração, sobretudo na ausência de diácono, é evidente. Haja essa preocupação, visando ao bom desenvolvimento da celebração.

Durante o hino de louvor é bastante significativo que os sinos sejam repicados, onde houver. Após esse momento, são “calados” até o hino de louvor na Vigília Pascal.

Na oração eucarística, durante a elevação das espécies transubstanciadas, onde for costume o uso de sinetas, estas deverão ser substituídas por matracas.

Neste dia é oportuna a distribuição da comunhão sob as duas espécies, já que a data é bastante significativa. Caso ocorra, redobre-se os cuidados sobre o preparo do altar, com um corporal maior, quantidade de cálices proporcional ao número de âmbulas, vinho em maior quantidade e ministros em número suficiente. Orientações relativas podem ser dirigidas aos fieis, em caso de necessidade.

Outro momento importante, está na observância do silêncio após o translado, tanto dentro quanto fora do espaço celebrativo. Haja orientação suficiente nesse sentido, preferencialmente antes da celebração, para não quebrar o clima solene e meditativo.

Como os próprios documentos relativos à liturgia indicam, não se expõe o Santíssimo à adoração dos fiéis, no ostensório; ao contrário, fica em âmbulas dentro do sacrário fechado.

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