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quarta-feira, 30 de março de 2011

MÚSICA E LITURGIA - continuação


Dando continuidade ao assunto música e liturgia...


4 UM TIPO DE CANÇÃO PARA CADA TEMPO LITÚRGICO

Nos momentos onde for possível inserir cânticos livres, ou seja, fora dos momentos onde se cantam partes fixas da missa, a equipe de canto deve priorizar canções voltadas à proposta de cada tempo litúrgico, a saber:

- Tempo do Advento: músicas que contemplam a expectativa da espera e da necessidade de preparar corações para receber o Cristo que vem.

- Tempo do Natal: músicas que falem do Verbo encarnado, do Cristo presente entre nós.

- Tempo Comum: por se tratar do tempo onde o destaque é o ministério público de Jesus, é importante destacar canções desse gênero, de acordo com a Liturgia da Palavra do dia.

- Tempo da Quaresma: são proibidas as músicas que tragam o “aleluia”. Deve ser um tempo onde se prioriza as canções que falam da necessidade de conversão, da penitência e das práticas de caridade.

- Tempo Pascal: tempo de maior júbilo, onde todos os dias são pascais. É o “dia de cinquenta dias” e deve ter canções que falem da ressurreição de Cristo, da vida nova, da alegria e confiança em Deus.

Em solenidades, os critérios passam pela busca de canções que se encaixem com a ocasião. Evidentemente que numa solenidade da Assunção de Maria, por exemplo, não se cantará cantos marianos de início a fim. A paz que se expressa é a de Cristo, as oferendas que se apresentam são para que se transubstanciem em Jesus, o corpo que se recebe na comunhão é do Ressuscitado, ou seja, nem tudo pode se converter ao santo ou ocasião celebrada, mas pode, mesmo nesses casos apresentados, haver referências ao que se celebra. Em se tratando da solenidade da Anunciação do Senhor, percebe-se que as equipes de canto de um modo geral se preocupam em escolher cantos marianos quando, na verdade, trata-se de uma solenidade do Senhor, mesmo tendo a Virgem Maria participação fundamental nesse episódio.


5 MÚSICA PROTESTANTE NA LITURGIA

Esse assunto merece um tópico a parte e é um tanto delicado, possuindo várias interpretações.

Primeiramente, cito a posição do saudoso Dom Estevão Tavares Bettencourt a esse respeito:

“Não é conveniente adotar cânticos protestantes em celebrações católicas pelas razões seguintes:

1) Lex orandi lex credendi (Nós oramos de acordo com aquilo que cremos). Isto quer dizer: existe grande afinidade entre as fórmulas de fé e as fórmulas de oração; a fé se exprime na oração, já diziam os escritores cristãos dos primeiros séculos.

No século IV, por ocasião da controvérsia ariana (que debatia a Divindade do Filho), os hereges queriam incutir o arianismo através de hinos religiosos, ao que Sto. Ambrósio opôs os hinos ambrosianos.

Mais ainda: nos séculos XVII-XIX o Galicanismo propugnava a existência de Igrejas nacionais subordinadas não ao Papa, mas ao monarca. Em consequência foi criado o calendário galicano, no qual estava inserida a festa de São Napoleão, que podia ser entendido como um mártir da Igreja antiga ou como sendo o Imperador Napoleão.

Pois bem, os protestantes têm seus cantos religiosos através de cuja letra se exprime a fé protestante. O católico que utiliza esses cânticos, não pode deixar de assimilar aos poucos a mentalidade protestante; esta é, em certos casos, mais subjetiva e sentimental do que a católica.

2) Os cantos protestantes ignoram verdades centrais do Cristianismo: A Eucaristia, a Comunhão dos Santos, a Igreja Mãe e Mestre... Esses temas não podem faltar numa autêntica espiritualidade cristã.

3) Deve-se estimular a produção de cânticos com base na doutrina da fé.”

Existe muita música de origem protestante cuja letra e melodia são de tamanha beleza que penetra nosso interior. Elas falam do amor de Deus, da fraternidade, da reconciliação, do louvor, enfim, tantos assuntos que também cantamos em nossa tradição católica. Por outro lado, nós católicos possuímos cantos belíssimos, inspiradores, pautados na Palavra de Deus e na tradição cristã, como escritos dos santos e doutrinas da Igreja. Muitas vezes, engavetamos o que de belo temos para priorizar o que foi composto dentro de uma concepção divergente ao nosso modo de crer.

A princípio, desde que não contrarie a fé cristã-católica e atenda aos princípios litúrgicos, não há problema em se empregar canções protestantes na Sagrada Liturgia; nas palavras do próprio Jesus, “o que não está contra nós é a nosso favor” (Mc 9,40). Mas se considerarmos aquilo que cremos, da forma como cremos e celebramos, estamos diante de uma falta de respeito e fidelidade à nossa fé e à nossa tradição. É como cantar um canto protestante de adoração diante do Santíssimo Sacramento, sabendo claramente que seu compositor rejeita a presença real de Cristo na Eucaristia. Assim, estamos desprezando as canções compostas por irmãos católicos, que em suas concepções visualizaram Cristo Eucarístico ou até que diante dele buscaram inspiração para compor.

Sabemos que o patrimônio artístico referente à música sacra em nossa Igreja é enorme. É hora de resgatarmos canções e também conhecermos o que de novo surge a cada dia, cujo trabalho está em comunhão com a Igreja e nela e a partir dela busca inspiração. Cantar o que é nosso é valorizar nosso rico e inestimável patrimônio.

É de Santo Agostinho a frase que inicia esse artigo: “se queres saber no que cremos, vem ouvir o que cantamos”. O que cantamos reflete diretamente aquilo que cremos, ou seja, um fator inspira o outro, caminham lado a lado, são inseparáveis. Ainda que apreciemos certas canções, bandas ou compositores protestantes é preciso saber que existe um limite na aplicação de seus trabalhos e que as doutrinas que os embasam, em boa parte, divergem substancialmente da fé que recebemos de Cristo, dos apóstolos, da Igreja.

É preferível, pois, valorizarmos o que é nosso e empregá-lo na sagrada ação litúrgica, onde está o ápice da vida cristã, evitando a inserção de outras formas de manifestação artística. Temos um passado riquíssimo e um futuro brilhante para sustentar a Liturgia, mantendo todo decoro e dignidade que o culto merece e, assim, livrando-o de possíveis heresias mascaradas que podem estar presentes em muitas canções de origens não católicas.


6 CANTAR EM LATIM

O latim é o idioma que constitui ponto de unidade na Sagrada Liturgia, sobretudo no rito latino, predominante no Brasil e no ocidente. Portanto, é louvável sua aplicação no canto litúrgico, mesmo que não em sua totalidade, para expressar o caráter uno da Santa Igreja, onde quer que ela esteja.

“Uma vez que se realizam sempre mais frequentemente reuniões internacionais de fiéis, convém que aprendam a cantar juntos em latim ao menos algumas partes do Ordinário da Missa, principalmente o símbolo da fé e a oração do Senhor, empregando-se melodias mais simples.” (IGMR 42)

Atualmente, vê-se uma preocupação em se empregar o latim em alguns cantos, caso do Agnus Dei (Cordeiro de Deus), que conta com melodias simples e belas. O Pai Nosso também é outra oração com algumas melodias já consagradas no meio cristão. Aliás, outras partes da missa podem ser cantadas de acordo com a tradição da Igreja, como o Kyrie Eleison (“Senhor, tende piedade”, em grego). Mesmo no rito extraordinário, também conhecido como tridentino, nem todas as canções litúrgicas eram em latim, já que existiam outras formas de cantos além do gregoriano, muitas canções de apelo mais popular e ainda cantadas na forma ordinária da Liturgia Romana.


7 CUIDADOS COM A MÚSICA NA LITURGIA

Uma preocupação crescente nos dias atuais nasce justamente de uma grande graça: a multiplicação de cantores católicos e consequentes trabalhos. São tantos lançamentos, tantas opções que acabam, muitas vezes, em confusão. A Igreja, sempre zelosa com a Liturgia, busca orientar músicos e liturgos em prol de celebrações que propiciem profunda experiência com Deus, sem perder a essência que as caracterizam.

Há, portanto, uma série de considerações a serem observadas pelo músico católico, quando o assunto é Liturgia. Além das já citadas, vale a pena acrescentar as seguintes:

  • As canções empregadas na Sagrada Liturgia precisam estar em sintonia com as motivações celebradas: não se cantam hinos de Natal na Páscoa, por exemplo, da mesma forma que um canto não pode ser considerado hino de louvor pelo simples fato de trazer em sua composição expressões como “Glória a Deus”.

  • Nenhuma composição litúrgica pode trazer o termo “Javé”, em respeito à tradição judaica de não se pronunciar o nome de Deus, bem como pelas razões que levaram ao costume de omiti-lo de seus textos litúrgicos (para mais esclarecimentos, consulte http://liturgiahoje.blogspot.com/search/label/Jav%C3%A9).

Válido ressaltar que nem toda composição religiosa pode ser empregada na Liturgia. Muitos de seus autores sequer objetivam isso. A música popular católica tem por objetivo nutrir nossa fé no dia a dia e pode ser utilizada em encontros, retiros, catequeses e outros eventos cristãos. Ainda que não seja previsto dentro da Liturgia, é muito comum em várias comunidades a inserção de homenagens diversificadas, como dia das mães, dia do padre, do catequista, do trabalho, enfim. Caso isso ocorra, que ao menos haja bom senso na escolha de canções não litúrgicas, mas que preservem o clima celebrativo. Naturalmente, seja ressaltado, o melhor momento para esses tipos de homenagem é fora da missa, antes ou logo após. Esse estudo até merece um aprofundamento mais detalhado, mas não dentro deste artigo destinado à música na Liturgia.


8 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Sem sombra de dúvidas, a música ocupa um espaço muito importante em todos os segmentos da sociedade. Com a Liturgia não é diferente, uma vez que o cântico litúrgico pode elevar corações com grande intensidade. Mas essa possibilidade de elevação pode ter efeito contrário, se as celebrações não forem preparadas à devida altura, com a importância que devem ter. É lamentável perceber que muitas comunidades não investem em música, seja em aparelhagem de som adequada, seja em instrumentos musicais e, sobretudo, na formação e profissionalização de seus músicos. Em muitos lugares, são as iniciativas pessoais que dão resultado, o que não é ruim, comparada a estagnação de tantas equipes de canto.

Mesmo com a abertura dada pelo Concílio Vaticano II, no que tange o uso de outros instrumentos musicais além do órgão, e outras formas de canto além do gregoriano, muito ainda precisa ser feito para que a Liturgia não perca a sua sacralidade, sobretudo por parte dos que confundem canto litúrgico com seleção de músicas aleatórias que satisfazem gostos pessoais, mas são desprovidas dos sentidos que deveriam assumir em cada momento de uma celebração eucarística (para ser mais específico, embora isso se repita em outras celebrações sacramentais, principalmente em matrimônios). Agrava ainda mais a situação, quando pessoas “enxergam“ status no que deveria ser um serviço prestado conforme os dons recebidos, desenvolvidos e disponibilizados para o bem comum.Por fim, por mais que os tempos atuais tenham rendido boas safras de canções litúrgicas, não podemos abandonar o imensurável patrimônio que a Igreja construiu ao longo dos séculos. Canções que sustentaram na fé nossos antepassados não podem ser simplesmente descartadas. Antes, merecem atenção e consideração, mesclando o antigo com o atual, ainda que a tradição em língua portuguesa não possua tão grande repertório. Cantos em latim também entram nessa dinâmica, mesmo em missas rezadas no vernáculo (por que não?).

Que Santa Cecília, padroeira dos músicos, interceda sempre por todas as equipes de canto litúrgico. Amém!

terça-feira, 19 de outubro de 2010

MÚSICA E LITURGIA

“Se queres saber no que cremos, vem ouvir o que cantamos.”
(Santo Agostinho)



INTRODUÇÃO


Nas últimas décadas temos percebido claramente que a música vem conquistando cada vez mais espaço, e isso não é de se espantar. Os primeiros indícios de música vêm do ano 60000 aC, com a descoberta de uma flauta feita de osso. O ser humano sempre assimilou sons e, a partir deles, pode compor arranjos, numa sucessão do que mais tarde chamaríamos de notas musicais. À Grécia atribui-se a evolução musical, tanto é que a palavra música vem do grego e significa "a arte das musas".
Desde cedo, a Igreja já valorizava o canto e os centros de fé, como Roma, Bizâncio, Antioquia e Jerusalém, já eram grandes centros de música.

Das escolas musicais, passando pelo canto gregoriano, nos transportamos à nova realidade trazida pelo Concílio Vaticano II. Mesmo mantendo o canto gregoriano e o órgão de tubos como oficiais no rito latino, houve abertura para outras formas de canto e é sobre essa realidade que este artigo se destina.


1 O CANTO LITÚRGICO

Não é tarefa fácil abordar esse assunto, que é um tanto polêmico e rende boas discussões que muitas vezes não levam a lugar algum. Atualmente, vemos uma grande explosão de equipes de canto em nossas comunidades e parecem que são divididas em grupos. Temos os coros tradicionais que empregam somente o órgão como instrumento musical, mas também temos as equipes influenciadas pela Renovação Carismática Católica. Ainda devemos considerar as equipes mais neutras, como aquelas que procuram seguir os hinários litúrgicos, sem esquecermos as liturgias conduzidas com cânticos de cunho mais social e as variantes musicais que resultam em celebrações temáticas, como sertanejo, afro, dentre outros.

Válido citar a Constituição Conciliar Sacrossanctum Concilium sobre a Sagrada Liturgia que diz:

"112. [...] A música sacra será tanto mais santa quanto mais intimamente unida estiver à ação litúrgica, quer como expressão delicada da oração, quer como fator de comunhão, quer como elemento de maior solenidade nas funções sagradas. A Igreja aprova e aceita no culto divino todas as formas autênticas de arte, desde que dotadas das qualidades requeridas."

De antemão, concluímos que a Igreja não tem objetivo de promover somente um estilo musical, desde que haja bom senso na forma de conduzir a assembleia reunida. Contudo, não é lícito criar "missas temáticas", como a sertaneja, a carismática ou a estilo CEB, já que o centro da Sagrada Liturgia é Cristo e o canto tem a função de situar os fiéis dentro da missa, inserindo-os no mistério celebrado.

Mas a grande problemática não está tanto nessas variações anteriormente citadas. O que se vê nas comunidades eclesiais é a nítida falta de preparo dos músicos, que não têm criérios para escolha dos cantos empregados na ação litúrgica.

Cada tempo litúrgico apresenta suas particularidades, e essas diferenças próprias de cada ocasião deveriam ser consideradas na hora de se escolher os cantos para uma celebração (cf. SC 107). A questão não é escolher a música bonita, a preferida do padre, a mais tocada nas paradas de sucesso católico, mas aquela que expressa o que a Igreja celebra.

A Igreja parece viver uma primavera no que tange a música, dentre outros assuntos. Trabalhos cada vez mais perfeitos encantam e conquistam corações. Mas nem toda canção católica é uma canção litúrgica e, portanto, não pode ser entoada na Liturgia. E existem ocasiões em que essas músicas são bem-vindas, como em grupos de oração, novenas, manifestações artísticas e na evangelização.

Outro agravante são as melodias adaptadas, aquelas canções do meio secular “cristianizadas” e inseridas na Liturgia. Também devem ser evitadas, pois não constituem formas autênticas no culto cristão.


2 O PAPEL DA EQUIPE DE CANTO LITÚRGICO


Na Liturgia, os elementos da equipe de canto, juntamente com os que servem o altar, os comentadores e leitores, desempenham verdadeiro ministério litúrgico (cf. SC 29). Contudo, é preciso tomar grande cuidado com o emprego do termo “ministério”, comumente utilizado para se referir ao ministro ordinário (diáconos, presbíteros e bispos) e extraordinário (os que auxiliam na distribuição da sagrada comunhão, na organização das celebrações dentre outros).

A equipe de canto é parte da assembleia, porém organizada de forma a sustentar com o canto todos os fiéis presentes. Portanto, sua função não é animar a assembleia, atributo do presidente da celebração ou do animador (comentarista).

Os músicos, enquanto equipe, pertencentem à Sagrada Liturgia e devem participar das formações promovidas, bem como aprimorar sempre seus conhecimentos sobre Liturgia e sobre música, de forma a corresponder à sua finalidade única anteriormente mencionada.

Sendo a Liturgia previsível, já que os textos aprovados estão organizados e facimente disponíveis, é dever do músico se planejar anteriormente a fim de evitar falhas e não empregar cantos aleatórios, fora da proposta litúrgica.

No espaço litúrgico, o lugar mais indicado para a equipe de canto é próximo da assembleia, não voltada para o povo, mas com o povo voltada para o altar, centro de toda ação litúrgica.


3 UM TIPO DE CANTO PARA CADA PARTE DA MISSA

Cada momento da celebração, quando permitido acompanhamento musical deve corresponder à ação daquele instante. A seguir, algumas pistas a serem consideradas.

- Entrada processional: este canto tem por atribuição abrir a celebração, promover a comunhão da assembleia, introduzindo-a no mistério celebrado, e acompanhar a procissão de entrada (cf. IGMR 47). Canções que falem da caminhada ou que priorizam a comunhão eclesiástica se encaixam bem. Caso seja omitido, canta-se ou recita-se a antífona de entrada do dia ou textos próprios do Gradual Romano (que contém o formulário utilizado antes da reforma litúrgica). O canto de entrada se encerra imediatamente após o presidente da celebração chegar até o altar e saudá-lo com o ósculo, a menos que haja incensação, ocasião pela qual será prolongada a sua execução.

- Ato penitencial: uma vez que existem formulários para esse momento, quando for cantado deve possuir a mesma linha das súplicas (Senhor/Cristo/Senhor piedade (Kyrie/Christe/Kyrie eleison)). Dentro de cada momento, um comportamento cuidadoso deve ser observado. Estamos diante de um momento de exame da consciência, onde cada fiel olha para dentro de si e se reconhece pecador, falho, necessitado da misericórdia do Pai. Naturalmente, perdão se pede em clima de arrependimento, não de festa, não com palmas ou gestos acrobáticos.

- Hino de Louvor: quando cantado, merece fidelidade ao texto litúrgico. Não se trata de uma simples glorificação à Trindade Santa. O Hino de Louvor tem Cristo como centro, assim como a Liturgia. Também não se louva a Deus pelo perdão anteriormente recebido, mas glorifica-se o Pai a partir da pessoa de Jesus, na unidade com o Espírito Santo.

- Salmo Reponsorial: como cânticos de louvor e súplica que são devem ser sempre cantados, ao menos o seu refrão. O texto sagrado do dia dará a percepção da melodia, se deve ser mais meditativa ou mais vibrante. Há a possibilidade de substituição por textos do Gradual Romano, mas jamais se admite omissão ou substituição por um canto qualquer.

- Aclamação ao Evangelho: exceto no tempo quaresmal deve, obrigatoriamente, possuir o “aleluia”. Preferencialmente seja dada preferência à antífona do Evangelho, ou esta seja adaptada e incluída no canto escolhido. Após a aclamação ao Evangelho, é costume em algumas comunidades cantar novamente um breve trecho, preferencialmente do refrão. Trata-se de um costume válido e que não encontra barreiras nas normas litúrgicas.

- Apresentação das Oferendas: geralmente este canto rende graças a Deus pelos dons que apresentamos para serem consagrados. Pode, ainda, falar da partilha dos bens, para que o pão de cada dia não falte na mesa do irmão, mas sempre ligado ao momento que celebramos, a Liturgia Eucarística. Grande cuidado em celebrações da Palavra (dirigidas por leigos): se não há oração eucarística, não se deve referenciar a apresentação do pão e do vinho. Outro detalhe importante é não prolongar por muito tempo o canto, encerrando o canto logo após a finalização da apresentação das oferendas sobre o altar e conclusão da coleta, se houver.

- Santo: é outro hino que exige fidelidade ao texto original. É recomendável que a sua letra não apresente conteúdo diferente e que impossibilite a assembleia de cantá-lo. É o canto mais importante da ação litúrgica, um hino de engrandecimento a Deus, destacando sua santidade, majestade e eternidade.

- Abraço da Paz: canto de fraternidade e comunhão, deve ser bem breve. Pode ser substituído por um breve acorde e onde há esse costume, a experiência tem se demonstrado bastante produtiva. O importante é não prolongar esse momento, com o grave risco de quebrar o clima pré-comunhão eucarística. É preciso quebrar a errônea visão de confraternização no meio da missa. O fiel presente saúda apenas os mais próximos de si e o tempo para isso é breve. Contudo, o termômetro usado para finalizar esse canto é o retorno do presidente/dirigente da celebração ao altar. Válido, ainda, ressaltar que este canto não é previsto em nenhum documento sobre liturgia.

- Cordeiro de Deus: prece de competência da assembleia e que pode ser cantada. Uma curiosidade um tanto desconhecida: não existe uma regra que limita em duas vezes a repetição de “Cordeiro de Deus que tirais o pecado do mundo, tende piedade de nós”. Esta parte pode ser repetida quantas vezes forem necessárias, pelo menos duas, até que o presidente da celebração conclua a fração do Pão, seguido pelo “dai-nos a paz”. Só se inicia o Cordeiro de Deus após o sacerdote começar o gesto da fração do Pão.

- Canto de comunhão: deve proporcionar o que o rito mesmo sugere: a comunhão (entre Cristo e o fiel comungante). Melodias mais suaves proporcionam clima de recolhimento, propício à contemplação e adoração, abordando o Reino de Deus, remetendo àquela Ceia da noite da entrega de Nosso Senhor ou mesmo manifestando nossa alegria em ser convidado para Dele se alimentar. Sendo possível, a sintonia com a Liturgia da Palavra do dia pode expressar a igualdade de importância entre as mesas eucarística e da Palavra afirmada pelo Concílio Vaticano II.

- Ação de Graças: a palavra Eucaristia significa “ação de graças”. Um canto pós-comunhão estende o clima orante e deve manifestar a alegria de pertencer ao número dos que creem no Cristo, glorificando-O. Quando utilizado, que seja breve, de modo a haver tempo para o silêncio sagrado pós-comunhão. Ao contrário do canto de comunhão, este canto que pode ser cantado por toda a assembleia traduz de maneira mais intensa o desejo de sermos um com Cristo e o Pai, no nosso ato de confiante entrega em suas mãos. A Didaqué, documento dos primórdios da Igreja, destaca um canto utilizado como forma de agradecimento após a comunhão. Na prática, seria mais interessante utilizá-lo como um segundo canto de comunhão, preferencialmente, quando toda assembleia, ou grande maioria já estiver comungado, enquanto o presidente/dirigente da celebração purifica os vasos sagrados.

- Canto final: eis um outro canto que não é previsto na Sagrada Liturgia. A própria reforma prevê o “ide em paz” como finalização da celebração, tirando o sentido de um canto final. Prefiro chamá-lo de canto de dispersão da assembleia, já que não cumpre nenhuma função litúrgica. O Documento 79 da CNBB (1999) “A música litúrgica no Brasil”, em seu item 324 sugere que “durante a saída do povo, o mais conveniente seria um acompanhamento de música instrumental. Se em alguma ocasião parecer oportuno um “canto final”, por exemplo, o Hino do Padroeiro ou Padroeira na sua festa, ou um hino em honra da Mãe do Senhor em algumas de suas comemorações, que ele seja cantado com a presença de todo o mundo, logo após a bênção, antes do “Ide em paz”.”. Como já é um costume bem enraizado, não somente na Igreja no Brasil, mas em todo o mundo, é conveniente a escolha de cantos que abordem a missão de construir o Reino de Deus e de evangelizar. Estes cantos costumam ser mais vibrantes. Importante não fazer desse momento pós-celebração um show, com barulho ensurdecedor e muito prolongado.


(continua no próximo artigo)