quarta-feira, 24 de março de 2010

DOMINGO DE RAMOS E DA PAIXÃO DO SENHOR

“Se com Ele sofremos, com Ele reinaremos.”
(II Tm 1,12)

INTRODUÇÃO

Com ramos nas mãos, recordando a entrada triunfal de Cristo em Jerusalém (cf. Lc 19,28-40), sendo aclamado rei pelo povo, a Igreja abre a Liturgia deste domingo. O Cerimonial dos Bispos (CB) salienta a duplo aspecto do Ministério Pascal de Cristo que convenientemente deve ser abordado na catequese deste dia (cf. CB 263), salientando que estamos inseridos na realidade pascal de Jesus, ou seja, sepultados para o pecado com Cristo, igualmente ressurgiremos para a eternidade em Deus.

É costume que nas comunidades haja apenas uma celebração com bênção e procissão dos ramos, no horário que for mais conveniente. As demais celebrações ocorrem sem esse momento de manifestação pública pelas ruas das comunidades.

O Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor é uma junção de duas liturgias muito ricas. A Liturgia das Palmas é herdada da Igreja-Mãe da Terra Santa que por volta do Século V recordava a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém, percorrendo o mesmo caminho que Ele, revivendo com entusiasmo as cenas narradas pelos evangelistas A Igreja de Roma, por sua vez, celebrava de maneira austera a paixão de Cristo, antecipando seu santo sacrifício. A partir do Século XII, ocorre a incorporação da primeira liturgia à segunda, objetivando mostrar as duas extremidades daquela semana em que Jesus foi traído, condenado, flagelado e crucificado, mesmo sendo aclamado rei poucos dias antes.

Ao passo que a liturgia antecipa a memória da morte do Salvador, também antecipa sua Páscoa, proclamando-o rei. Por isso, essa data também ficou conhecida como a “Páscoa Florida”.


1 ASPECTOS CELEBRATIVOS

As missas deste dia são constituídas de duas partes, a saber: comemoração da entrada de Jesus em Jerusalém e celebração eucarística.


1.1 COMEMORAÇÃO DA ENTRADA DE JESUS EM JERUSALÉM

Esta primeira parte tem início em local fora da igreja, como uma igreja menor ou outro lugar apropriado. Nesta parte, o presidente da celebração chega ao local, enquanto entoa-se um canto apropriado. Após, o presidente saúda a Santíssima Trindade e a assembleia reunida, convidando-a a participar de forma ativa e consciente da celebração do dia. Em seguida, profere a oração de bênção dos ramos, aspergindo-os em seguida.

Logo após a bênção dos ramos, ocorre a proclamação do Evangelho referente a esta primeira parte. Posteriormente, a convite do diácono ou do próprio presidente, inicia-se a procissão rumo à igreja. Enquanto caminha, a assembleia entoa cantos e aclamações em honra de Cristo-Rei.


1.1.1 Observações sobre a primeira parte

Considerando a celebração inciada em lugar externo, algumas considerações são pertinentes, como as relativas ao serviço de som adequado, objetos utilizados durante o rito e equipe de canto litúrgico.

Em relação ao som, indispensável ressaltar a importância que exerce ao permitir que todos os fiéis presentes ouçam com atenção e comodidade as orações, motivações e cantos relacionados ao momento. Convém se pensar numa mesa de som única, que seja móvel, de modo a permitir seu uso durante o trajeto processional até a igreja.

Quanto aos objetos litúrgicos, são essenciais para o bom andamento da celebração. A caldeira com o asperges, por exemplo, deve estar preparado e colocado sobre uma mesa. Atenção quanto a água; caso não esteja benta, avisar o presidente da celebração. E mais, a depender da quantidade de fiéis e da capacidade da caldeira, convém deixar um recipiente com mais água para acrescentar, em caso de necessidade de reposição. O uso de incenso também é bem propício nesta ocasião, motivo pelo qual turíbulo com brasa e naveta com incenso devem estar previamente preparados, tendo as funções de turiferário e naveteiro devidamente desempenhadas. A cruz processional pode estar ornada com alguns ramos bentos e seguirá em procissão logo atrás do turíbulo, ladeada pelas tochas (velas). Missal, lecionário e/ou evangeliário também devem estar previamente preparados, com as partes relacionadas já separadas pelas fitas que os acompanham.

Durante a aspersão dos ramos, é facultado ao presidente o uso da capa pluvial de cor vermelha, veste com a qual o presidente poderá conduzir toda a primeira parte da celebração.

Uma equipe de canto litúrgico é bastante importante nesse contexto, já que tem a função de sustentar a assembleia com cânticos. Ademais, diante de uma manifestação pública de fé em Cristo, nesse dia aclamado rei, essa e outras questões merecem esmero, de forma a envolver as pessoas que eventualmente acompanharão, mesmo sem participar, a procissão. A beleza e os cuidados também são formas de evangelização. Naturalmente, os cantos traduzem o espírito da celebração, que é proclamar Cristo como rei, dar hosanas ao Filho de Davi, tal como aquele povo à época do acontecimento.

Por fim, é conveniente a preparação de um belo ramo, talvez trabalhado, ornado com um laço vermelho, para que o presidente da celebração possa ostentá-lo durante o trajeto processional rumo à igreja.


1.2 CELEBRAÇÃO EUCARÍSTICA

A partir da chegada da procissão à igreja, a celebração segue com a celebração eucarística. Estruturalmente pouco se diverge de outras celebrações, salvo os ritos iniciais que não ocorrerão. A narrativa da Paixão de Nosso Senhor é extensa e comumente participativa, onde vários leitores participam; o presidente normalmente lê os textos de Jesus e a assembleia interpreta o povo da época. Diante da narrativa do momento em que Cristo entrega seu espírito, uma pausa é inserida, acompanhada um momento onde todos se ajoelham. A partir deste ponto pós-narrativa da paixão, a celebração deixa de assumir particularidades, exceto durante a apresentação das oferendas, quando a Igreja no Brasil realiza a coleta da solidariedade, um gesto concreto à Campanha da Fraternidade realizada todos os anos no período da quaresma.


1.2.1 Observações sobre a segunda parte

Chegada à igreja, a procissão é finalizada. Os fiéis tomam seus lugares e a segunda parte desta celebração se inicia com a oração da coleta, omitindo-se os ritos iniciais comumente realizados nas demais celebrações e parcialmente empregado na primeira parte desta celebração. É costume nas comunidades, quando do fim da procissão, que a equipe celebrativa aguarde a entrada dos fiéis para, enfim, se dirigirem ao presbitério. De qualquer forma, não se trata de uma nova entrada processional, mas a conclusão da que se iniciou no ambiente externo.

Chegando ao presbitério, antes da veneração do altar, o presidente da celebração, se assim entender, retira a capa pluvial e se reveste da casula vermelha. Em seguida, venera o altar e o incensa. Ocupando a frente da cátedra, o presidente conduz a oração da coleta. Inicia-se, após, a Liturgia da Palavra, como de costume. Porém, o Evangelho, neste momento chamado de “Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo”, costuma contar com a participação de um narrador, alguns leitores, Jesus e o povo, sendo que as falas de Jesus costumam ser interpretadas pelo presidente da celebração, ao passo que as sentenças do povo são proferidas por toda a assembleia. Geralmente, os folhetos litúrgicos trazem essas indicações, sobretudo a respeito do momento onde toda a igreja se ajoelha durante uma pausa em silêncio (quando Jesus entrega seu espírito). Esse modo de narrar a paixão, caso ocorra, demanda muito preparo, sobretudo ensaios prévios, sendo recomendado pessoas experientes na função de leitor e que saibam usar o microfone de forma adequada. Convém, ainda, escalar somente homens para a narrativa, uma vez que as falas se referem a personagens do sexo masculino.

Para a narrativa da paixão de Nosso Senhor, não se incensa o livro litúrgico, nem se o ladeia com velas. Ao final, também não se beija o livro, como de costume.

Relativo à apresentação das oferendas, é costume a oferta do gesto concreto da quaresma, direcionado pela Campanha da Fraternidade. Para isso, a fim de separar essa coleta específica da cotidiana, deve haver o cuidado em se distribuir envelopes para esse fim.

Dentro das preocupações, além da cor litúrgica vermelha, é costume das comunidades adornar as igrejas com ramos. Contudo, haja cuidado para se evitar exageros, desviando a atenção da celebração, ainda mais que nessa segunda parte, o foco principal está na paixão de Nosso Senhor. Outro cuidado é preparar um cesto com ramos abençoados para distribuição aos fiéis que não trouxeram os seus. O melhor momento para esta distribuição é durante a dispersão da assembleia ao fim da celebração.


2 NAS CELEBRAÇÕES SEM PROCISSÃO

Onde não houver procissão, a bênção dos ramos poderá ocorrer na forma de entrada solene, onde os fiéis trazendo seus ramos, se reúnem na porta da igreja ou dentro dela. O presidente da celebração, acompanhado por alguns fiéis, se dirige para uma parte da igreja de onde haja boa visibilidade e, de lá, inicia a celebração saudando a Santíssima Trindade e a comunidade reunida. A partir desse ponto, a celebração segue nos moldes da primeira parte (ver 1.1), com exceção da procissão, que ocorrerá somente com o trajeto do presidente e equipe celebrativa até o presbitério para sequência, conforme a segunda parte (ver 1.2).


3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Dispensável informar os cuidados que devem cercar a preparação desta celebração. O fato de ser anual exige constante consulta aos livros litúrgicos a fim de se recordar cada passo. Para tanto, algumas reuniões antecipadas devem ocorrer para tratar de escalas, atribuição de funções, listagem de equipamentos, objetos e outras pendências, checagem das vestes utilizadas, enfim uma preparação prévia que visa evitar “furos” de ordem organizacional e litúrgica.

Em algumas comunidades é costume cobrir as imagens a partir deste dia. Em outras, as imagens são cobertas logo no início da quaresma. Caso haja esse propósito, os tecidos também deverão estar preparados para cobertura das imagens antes da celebração. Geralmente, usa-se tecido roxo para essa finalidade.

O fato de ser o domingo que antecede o grande Domingo da Ressurreição, com uma celebração diferenciada e que atrai olhares atentos por parte dos fiéis e de pessoas que estarão pelas ruas acompanhando as movimentações, a motivação deve ser maior, em vista de uma celebração bem conduzida e harmoniosa. Muito importante haver uma coordenação que se preocupe em estabelecer relações prévias entre presidente da celebração, equipes de canto litúrgico, escalados para funções e a própria comunidade. Dessa forma, o hosana entoado em honra de Cristo ganhará mais força e, pela 'comum unidade' dos participantes desse ato litúrgico, ecoará pelas ruas das nossas comunidades, das nossas cidades e de todo o mundo.

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