“Ó noite em que Jesus rompeu o inferno, ao ressurgir da morte vencedor: de que nos valeria ter nascido se não nos resgatasse em seu amor?”
(do Precônio Pascal)
INTRODUÇÃO

Após vivermos a Páscoa da Ceia (na Quinta-Feira Santa) e a Páscoa da Cruz (na Sexta-Feira da Paixão), a Igreja nos insere na grande noite, na Páscoa da Luz, que é o próprio Cristo vivo e ressuscitado em nosso meio.
No Sábado Santo, ao contrário do que muitos pensam, não existe celebração da missa. É o dia em que a Igreja permanece silenciosa junto ao Santo Sepulcro do Senhor, meditando seu ato salvífico manifestado na dor da Cruz, onde se doou em favor de muitos.
Ao anoitecer, porém, a Igreja celebra a Vigília Pascal que por antiquíssima tradição é “a noite de vigília em honra do Senhor” (cf. Ex 12,42). Como bem nos lembrava Santo Agostinho, esta é “a noite santa e mãe de todas as vigílias cristãs”.
1 UM POUCO DE HISTÓRIA
Nos primórdios do cristianismo, nessa noite, os fiéis passavam em vigília, aguardando a ressurreição de Cristo. Já a partir do século II foi inserida, nesta celebração, a administração dos sacramentos de iniciação cristã. Desde então, já havia uma estrutura próxima ao que hoje celebramos.
Com o passar dos séculos, a Vigília Pascal foi deixando de ser tão participativa, como na antiguidade. Por conta disso, essa celebração foi antecipada para o início da tarde do sábado. No século XII, iniciava-se às 12h e quatro séculos mais tarde, passou a ser antecipada para as 9h da manhã. Com textos que remetiam à noite santa em que Cristo rompeu os grilhões da escravidão, celebrar em período diurno parecia uma certa incoerência.
Segundo o Frei José Ariovaldo da Silva, em seu artigo denominado “Em torno do Tríduo e da Vigília Pascal: coisas curiosas da história” (ficha nº 9 da coletânea reunida no livro ‘Liturgia em Mutirão’ – CNBB – 2007), foi em 1951 que foi restabelecida, pelo papa Pio XII, a Vigília Pascal como em suas origens, ou seja, na noite do sábado para o Domingo de Páscoa, dispositivo ratificado pela reforma litúrgica promovida pelo Concílio Vaticano II.
O Cerimonial dos Bispos afirma que esta celebração não deve se iniciar antes do início da noite do sábado e seu término precisa ocorrer antes da aurora do domingo (cf. CB 333).
2 ASPECTOS CELEBRATIVOS
A Vigília Pascal é composta por quatro liturgias: Liturgia da Luz, Liturgia da Palavra, Liturgia Batismal e Liturgia Eucarística. Tem início no lado externo da igreja, com a bênção do fogo novo, quando se acende o novo círio pascal, que simboliza o próprio Cristo na luz da sua ressurreição. Dentro da igreja, prossegue-se com a Proclamação da Páscoa, Liturgia da Palavra, bênção da água batismal e administração dos sacramentos de iniciação cristã (se houver catecúmenos). A partir da Liturgia Eucarística a celebração deixa de assumir particularidades relevantes.
2.1 O QUE PROVIDENCIAR
Para que esta celebração aconteça, é necessário preparar (cf CB 336):
- para a bênção do fogo: uma fogueira num lugar fora da igreja, onde o povo se reunirá inicialmente, o círio pascal, cinco grãos de incenso (ou cinco cravos), utensílio adequado para acender a vela com o fogo novo, lanterna para clarear os textos que serão proferidos pelo presidente da celebração, missal romano com as partes já devidamente separadas, velas a todos os que participam da Solene Liturgia e utensílio para o turiferário tirar brasas acesas do fogo, objetivando usá-las no turíbulo.
- para a proclamação da Páscoa: suporte para o círio pascal junto ao ambão (na impossibilidade de se colocar junto ao ambão, deve ser preparado outra instante de onde será proclamada a Páscoa, ao lado do local onde estará o suporte com o círio).
- para a Liturgia Batismal: recipiente com água e, se houver administração de sacramentos da iniciação cristã, óleo dos catecúmenos, santo crisma, vela batismal e Ritual Romano.
3 CELEBRAÇÃO E QUESTÕES PRÁTICAS
3.1 BÊNÇÃO DO FOGO NOVO
Fora da igreja, diante da fogueira, o presidente da celebração saúda o povo, enfatizando a importância desta celebração, usando de fórmula no missal romano. Em seguida, procede à bênção do fogo e acende silenciosamente o novo círio pascal, inserindo, logo em seguida, os cinco grãos de incenso ou cinco cravos na grande vela, simbolizando as cinco chagas de Jesus.
3.2 PROCISSÃO
Uma vez deitado incenso no turíbulo, inicia-se a procissão até a igreja, esta desta vez não precedida da cruz processional e tochas. A procissão segue a seguinte ordem: turiferário, diácono ou, na falta deste, o presidente da celebração com o Círio Pascal. Logo atrás, segue o presidente (caso não esteja portando o círio), diáconos, assistentes e todo o povo, todos com velas apagadas nas mãos.
3.3 CHEGADA À IGREJA E PROCLAMAÇÃO DA PÁSCOA
Já dentro da igreja escura (sem lâmpadas acesas), o círio pascal é apresentado por três vezes, sob a aclamação: “Eis a Luz de Cristo!”, ao que todos respondem “Demos graças a Deus!”. Na segunda exclamação, as velas passam a ser acesas a partir do próprio círio, se espalhando por toda a assembléia. Estando os fieis com suas velas acesas no fogo novo, ocorre a proclamação da Páscoa, também conhecida como Precônio Pascal ou simplesmente por “Exulte”.
3.4 LITURGIA DA PALAVRA
Uma vez proclamada a Páscoa todos apagam suas velas e sentam-se para a Liturgia da Palavra, onde nove leituras são propostas, sendo sete do Antigo Testamento e duas do Novo (Epístola e Evangelho). A depender das circunstâncias pastorais, o número de leituras do Antigo Testamento pode ser reduzido para três ou pelo menos dois, mas sem excluir a leitura do capítulo 14 do Livro do Êxodo. Cada leitura é intercalada por um salmo, seguido de oração.
Após a última leitura do Antigo Testamento, entoa-se o Hino de Louvor, enquanto se acendem as velas do altar e repicam-se os sinos (onde houver), que foram “calados” desde o Hino de Louvor na Missa da Ceia do Senhor, na Quinta-feira Santa. Posteriormente, o presidente da celebração diz a oração da coleta, como de costume. Prossegue-se a leitura da epístola paulina e proclamação do Evangelho.
3.5 LITURGIA BATISMAL
Terminada a homilia, dá-se início à Liturgia Batismal. Sacerdote e ministros se dirigem ao batistério ou, se for o caso, prepara-se um recipiente com água no presbitério. Após a exortação do povo (e para isso existem duas fórmulas, uma para quando houver batismo e outra se houver apenas a bênção da água batismal), entoa-se a Ladainha de todos os Santos (também com variantes, caso haja batismo). Durante a ladainha, todos se voltam em direção ao altar e assim permanecem até sua completa execução.
Terminada a ladainha, o presidente da celebração profere a bênção da água batismal. Porém em caso de batismo, esta é precedida de uma oração. Durante a bênção da água batismal, o presidente, se oportuno, mergulha o círio na água. Aqui é realizado o batismo, após os catecúmenos renunciarem ao demônio e suas obras e realizarem a profissão de fé. Catecúmenos adultos são confirmados, caso haja bispo ou sacerdote designado para fazê-lo.
3.5.1 Renovação das Promessas do Batismo
Caso não haja batismo, nem bênção da água batismal, o presidente da celebração benze a água para aspersão da assembleia. Em seguida, renova-se as promessas do batismo, onde todos em pé e com as velas acesas respondem às perguntas feitas pelo presidente da celebração. Procede-se, então, à aspersão da assembleia. A renovação das promessas do batismo ocorre independente de ter havido ou não batismo.
4 LITURGIA EUCARÍSTICA E RITOS FINAIS
A partir deste ponto, a liturgia segue sem particularidades, salvo nos ritos finais, onde na despedida é acrescentado “aleluia, aleluia”. Da mesma forma o povo também faz esse acréscimo ao final da resposta “Graças a Deus”.
Quanto à Liturgia Eucarística, dispensável citar o caráter solene que ela traz, sobretudo porque por dois dias a Igreja não a celebrou, acompanhando as dores de seu Mestre e Senhor e permanecendo silenciosamente orante junto ao seu sepulcro.
Convidados para o Banquete Nupcial do Cordeiro, unimo-nos de tal forma ao Ressuscitado que nossa alegria se torna plena. Jesus vive e está entre nós!
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Belíssima celebração, esta soleníssima Missa constitui o ápice de todo o ano litúrgico. Quem dela participa, cumpre preceito dominical (cf. CB 335).
Para as equipes de liturgia, eis um grande trabalho a ser desempenhado, já que como pode se perceber, esta celebração é constituída de muitos detalhes, merecendo grandes cuidados.
Onde é costume cobrir as imagens, estas podem ser descobertas no início da Vigília Pascal; algumas comunidades costumam descobri-las durante o Hino de Louvor. A cruz, porém já deverá estar descoberta antes do início da celebração.
Para a proclamação da Páscoa, o missal romano traz um belíssimo texto que deve ser usado preferencialmente. Porém, existem outras versões aprovadas pela CNBB.
Embora assunto polêmico, muitas comunidades expressam por coreografias suaves alguns momentos, sobretudo os salmos. Onde for costume, haja constante preocupação com o que será apresentado, lembrando que tudo é feito para Cristo e não a si próprio. Existem documentos publicados pela CNBB a respeito do assunto, os quais devem ser bem analisados.
Durante a Ladainha de todos os Santos, importante ressaltar que todos devem se voltar para o altar e não para a cruz.
A partir desta Vigília, a Igreja vive o tempo pascal. Dia de cinquenta dias, onde a alegria pela ressurreição de Cristo norteia toda a liturgia e vida cristã.
Na segunda liturgia do Domingo de Páscoa, entoa-se a Sequência, que ocorre entre o fim da segunda leitura e a aclamação ao Evangelho. Toda assembleia participa deste momento em pé.
Durante a oitava da Páscoa, ou seja, os próximos oito dias após o Grande Domingo da Ressurreição, as liturgias diárias são celebradas como solenidades do Senhor. Nestes dias e durante todos os domingos do tempo pascal, o Círio, símbolo do Cristo ressuscitado, deverá ficar aceso, preferencialmente junto ao ambão.

FELIZ PÁSCOA! CRISTO RESSUSCITOU, ALELUIA!!